Reproduzimos a seguir o manifesto dos estudantes do IFSP, Campus São Paulo, contrários à adesão ao ensino remoto.
A todas e todos os estudantes do IFSP Campus São Paulo
Desde a suspensão das aulas presenciais diversos alunos e alunas do nosso campus mostraram sua insatisfação com a ideia de um projeto imediatista de implementação do Ensino Remoto Emergencial (ERE)/Ensino a Distância (EaD) realizando abaixo-assinados e manifestações contrárias ao projeto. Todas com adesão maciça da comunidade acadêmica, chegando aos milhares o posicionamento de rechaço a qualquer projeto de ensino remoto (como neste abaixo-assinado feito há três meses e que contou com mais de 1500 assinaturas http://chng.it/ZYWR5Df7cP).
Essa luta encontra ressonância na luta dos estudantes e professores das mais diversas instituições de ensino (públicas e privadas) espalhadas pelo Brasil, que vem avançando com firmeza e lucidez em defesa da ciência e da qualidade da educação, mostrando que não somente é possível, como também extremamente necessário defender a educação pública, gratuita e de qualidade em caráter universal. Sendo assim, entendemos ser indispensável – e o único caminho – para a massa estudantil, barrar as medidas impositivas de caráter imediatista como o ERE/EaD e assegurar a permanência de todos os estudantes.
Essa carta-manifesto, escrita por estudantes autônomos e independentes, não pretende ter um fim em si mesma. O principal objetivo aqui é propor algumas reflexões sobre aspectos essenciais do calendário acadêmico que estão sendo esquecidos nos debates – inclusive pelas entidades estudantis – e que essas reflexões possam ser um pontapé num debate mais amplo, sério e profundo que junto com outros manifestos e outras experiências de luta, nos possibilite construir um caminho democrático que atenda e solucione as necessidades da comunidade acadêmica em sua totalidade, sem, verdadeiramente, deixar ninguém para trás.
BARRAR O ERE/EaD É DEFENDER O ENSINO PÚBLICO, A CIÊNCIA E A RAZÃO
Diante da aprovação do calendário acadêmico sem qualquer consulta aos estudantes, principais interessados e afetados pela medida, nós licenciandos e licenciandas em Geografia do IFSP lançamos esse manifesto para nos posicionarmos e organizarmos contra o Ensino a Distância (EaD) que nos querem empurrar goela abaixo sob o eufemismo do Ensino Remoto Emergencial (ERE) e também através de chantagens e coação.
Entendemos que a implementação de qualquer calendário acadêmico com atividades remotas, significa um ataque à QUALIDADE e universalidade do ensino público, algo que vem sendo escamoteado nos debates sobre o ERE/EaD, inclusive – como colocamos anteriormente – pelas entidades estudantis. A exemplo, o Senso de Ensino Superior evidencia a relação direta do EAD às piores notas no Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), que avalia o rendimento dos concluintes dos cursos de graduação.
Para muito além da questão do acesso (que é ao que tem se prendido os debates oficiais sobre a implementação do calendário), existem contradições irresolúveis neste projeto antidemocrático, como as condições e estrutura para acompanhar as atividades remotas que não podem ser garantidas pelo IFSP. Por exemplo: aqueles estudantes sem um espaço adequado para estudar; aqueles sem condições psicológicas, já que o momento que atravessamos é bastante desgastante; aqueles com sobrecarga de trabalho doméstico, aqui, sobretudo as estudantes, já que os cuidados com idosos, crianças e as lides domésticas recai sobre as mulheres; e mais, o quão inclusivo é o projeto com aqueles que têm algum tipo deficiência?
Para todos esses alunos e alunas, o IFSP através daqueles que o administram parece ter a resposta perfeita, quando em seus questionários de levantamento para planejamento de atividades acadêmicas já sugeria o “trancamento da matrícula (sem prejuízo à contabilidade do tempo total na instituição)”.
Resumindo em uma palavra: Exclusão! As atividades de maneira remota, apenas acentuam as desigualdades.
Consideramos também que a posição da Direção do Campus de não cancelar semestre sob o pretexto de isso ter como consequência a suspensão de bolsas e auxílios de estudantes, não passa de mera chantagem com o direito básico dos alunos mais pobres. A consequência desse caminho é o avanço de um processo excludente de implementação de ensino remoto que tem sido imposto às universidades públicas como política de governo que, aliados aos grandes monopólios da educação, pretendem sucatear a educação pública e abrir caminho para privatizá-la.
Essa carta tem como interesse o direito assegurado de estudar, de todos os estudantes, de todos os segmentos do IFSP. No entanto, devemos nós – alunos e alunas de licenciatura do IFSP – tomar como nosso o interesse em rechaçar o ERE/EaD para qualquer segmento do IFSP, primeiro porque, para nós enquanto graduandos em uma licenciatura – ou seja, futuros professores e professoras – ensino a distância significa precarização da nossa categoria. Segundo, por entendermos que o processo de ensino-aprendizagem é muito mais que uma aula entre quatro paredes com uma câmera apontada. É indispensável o acesso aos equipamentos da instituição de ensino, como: laboratórios de informática, biblioteca, ambiente adequado para o ensino e aprendizado; visitas pedagógicas a outros espaços de aprendizado, as viagens de campo etc.; além do espaço social que permita a troca de experiências e de vivências das diferentes realidades entre colegas e professores.
Devemos, portanto, recusar essa falsa dicotomia imposta de que os únicos cenários possíveis são: 1) volta às aulas por meio de um calendário imposto de atividades
remotas e exclui grande parte dos alunos – além da precarização da educação pública; 2) ou a opção de cancelamento de quaisquer atividades.
Enquanto acadêmicos, busquemos fazer o trabalho de nos basear aos exemplos concretos de universidades e escolas que aderiram ao sistema do ensino remoto para nos depararmos com o grande fracasso da experiência. Não podemos fornecer e nem aceitar respostas imediatas à educação pública como fosse a finalidade dela cumprir metas e objetivos tecnocratas onde se prioriza os processos e ignoram-se as pessoas, tampouco podemos cair na ociosidade.
Entendemos que é através do amplo debate com a comunidade acadêmica que podemos chegar a um caminho justo de retomada do calendário, de forma que se garanta o vínculo, inclusão e atividade dos estudantes em sua totalidade. O conhecimento produzido nas universidades é essencial, sobretudo no momento de pandemia em que atravessamos, por isso é hora de defendê-lo e colocá-lo a serviço do povo e não de destruí-lo com soluções urgentes, mal planejadas e mal discutidas.
Por isso marcamos posição de maneira determinada e o posicionamento é claro: Não aceitamos o ERE/EaD! Não aceitamos a precarização do ensino público! Defendemos o direito à permanência no sentido amplo da palavra, com o pagamento dos auxílios e sem atividades remotas que excluirão uma parcela significativa de alunos.
ERE/EAD NÃO É A SOLUÇÃO! ORGANIZE SUA SALA, SEU CAMPUS, SEU CURSO PARA BARRAR O CALENDÁRIO.
PELA QUALIDADE DO ENSINO! PELA PERMANÊNCIA ESTUDANTIL! CONTRA O DESMONTE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA!